INTEROPERABILIDADE E CUSTOS ASSISTENCIAIS

No artigo passado nós conversamos sobre os desafios atuais dos sistemas de saúde. Garantir acesso e qualidade assistencial  por um custo suportável para a sociedade é uma necessidade global. Mostramos que os modelos de organização em redes de atenção à saúde despontam como uma das soluções mais promissoras. Um dos pilares das rede de atenção é o uso e compartilhamento massivo e sistemático dos dados assistenciais. Contudo, tais características são apenas suportadas por modelos de interoperação de dados.

A interoperabilidade de informações em saúde tem potencial de impactar a qualidade assistencial, o custo e eficiência do sistema, a satisfação profissional e a satisfação do usuário. Neste artigo iremos detalhar as principais evidências de como a interoperabilidade impacta nos custos da assistência em saúde.

Repetição de Exames

Um dos principais pontos de redução no custo é a minimização dos exames de imagem duplicados. Esse ponto ganha relevância uma vez que os exames desta natureza podem representar até 15% do custo assistencial. Do total de exames realizados, estima-se que entre 8 a 10% pode ser evitado mediante troca de informações entre serviços de saúde. Cabe destacar que a infraestrutura básica  e legal de interoperabilidade de imagens já existe no Brasil. A atividade de teleradiologia é regulamentada e o padrão DICOM de imagens médica é referência no mercado há mais de dez anos. O próximo passo é convergir as informações mediante soluções de interoperabilidade para conectar os diversos silos de imagens implantados nos serviços de saúde brasileiros.

Reinternações Hospitalares

A troca fluida de dados também pode impactar na chance de reinternação, um dos principais eventos geradores de custo. Recentemente se mostrou que a chance de reinternação pode ser  57% menor para o grupo atendido por uma rede assistencial com sistemas de informação interconectados. Até situações graves podem ser melhor geridas mediante interoperabilidade. Em fevereiro de 2019 foi demonstrado que hospitais com sistemas de informações interligados a rede de serviços observam 1,3% menos ocorrência de reinternações em até 30 dias após alta quando paciente é tratado para infarto agudo do miocárdio.

Informações atualizadas sobre os diagnósticos, medicamentos e procedimentos apoiam de maneira significativa o seguimento do cuidado após internação. Desta forma a chance de reinternação cai significativamente, e consequentemente se reduz o custo global.

Produtividade

A terceira via pela qual o custo pode ser reduzido é mediante o aumento da produtividade. Dados recentes mostram que o tempo em emergência pode ser reduzido em até 10,5% quando soluções interconectadas estão disponíveis. Pacientes são atendidos mais rapidamente, aumenta-se a capacidade operacional dos serviços e se reduz o custo médio por paciente atendido.

Conclusão

Diariamente surgem novas evidências sobre o impacto positivo da interoperabilidade de informações em serviços de saúde. Os ganhos são percebidos por todos os atores: pacientes, profissionais e para a gestão do sistema de saúde. Aqui demonstramos o impacto da interoperabilidade nos custos em saúde. O próximo artigo abordará a relação entre a  interoperabilidade e a qualidade da assistência. Nos encontramos lá!